Férias infelizes

Aluna: Manoela Guahyba, 8SA

Unidade: Lajeado

Professora: Martiele Jung

-Vamos, crianças! Andando! Ritmo! – berrou minha mãe, pisando naquela lama gosmenta e escura com sua determinação típica, e aquela mochila com mil e uma bugigangas que a faziam cambalear.

-Não é minha culpa se o chão parece a sopa do papai… – meu irmão murmurou, enquanto eliminava um mosquito de seu braço. Mas nisso, aquele peste tinha razão. Nos quesitos cheiro, cor, consistência e, provavelmente, sabor, aquele pântano era idêntico à sopa do papai.

Estávamos nos dirigindo a um ponto de pesquisa que, segundo o meu pai, era um belo vale com um córrego simpático e todo o tipo de animais encantadores. Nós já havíamos encontrado a parte do “todo o tipo de animais encantadores”, mas todo o tipo de animais encantadores MORTOS.

Sei o que estão se perguntando: “Mas, Rebecca, que tipo de pais egoístas arrastariam uma adolescente e um irritante garoto prodígio para uma reserva australiana em busca de uma espécie inédita de sapo?” E a resposta é: Meus pais. Meus adoráveis e falidos pais. Dois anos atrás, os melhores no ofício. Hoje, nem tanto. Pesquisadores não ganham tanto dinheiro assim.

Não aguento mais! Estávamos caminhando há três horas no pantanal, graças ao “atalho” do meu pai, que tinha uma bússola interna tão afiada quanto a moral.

-Podemos parar por alguns minutos? – perguntei, ofegante. Sentei em um tronco podre com uma visibilidade perfeita para o rosto entediado de meu irmão, já esboçando um sorriso sarcástico. Enquanto me preparava para a oitiva de insultos e comentários ofensivos da parte de meu irmão, algo o distraiu. Infelizmente, esse algo era eu.

Desvantagens de sentar em um tronco podre e decadente: ele quebra. Fui caindo com tudo no chão. Quando penso no acidente, só lembro-me de um flash. Felizmente, uma pedra “amorteceu” minha queda. Meus ouvidos apitaram e senti gosto de sangue.

Mexer-me só agravaria a situação. Meu pai me segurou enquanto minha mãe fazia um curativo em uma área acima de minha orelha. Se minhas suspeitas se consolidassem, a queda fora mais grave do que parecia.

Então eu percebi algo em minha pedra “salvadora”. Era um animal sepultado. Uma fossilização perfeita de um esquilo da megafauna. Meus pais se entreolharam e, apesar de eu ainda estar meio zonza, juro que vi o sinal de grana nos olhos da minha mãe.

Voltamos para casa antes que alguém pudesse gritar “eureca” no avião. E apesar de meus pais se meterem em viagens frequentes, nunca mais ouvi um murmúrio sobre viagens científicas em família.

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