Injustiças de uma sociedade racista

CarolinaLenzAutoras: Carolina Schmidt Lenz, Diennifer Cleuciane Gross, Giordana Gabrielle Heisser, Juliana Caroline Purper e Milena Thais Konrath
Turma: 2ª série A do Ensino Médio
Unidade: Lajeado
Professora: Martiele Jung

*Texto produzido a partir das a partir das características do Romantismo.

1º Capítulo
Correndo descalço, nos fundos do quintal da casa, o guri dos olhos caramelados, divertia-se sozinho, como de costume, durante um dos mais rigorosos invernos já tidos, quando seu pai o chamou:
– Pedro, carregue a lenha que cortei, está ali, debaixo das laranjeiras. Preciso que sua mãe faça fogo para esquentar a casa e prepare uma sopa quentinha para a janta. Rápido!
Obediente, ele o fez. Ouviam-se os passos da mãe na cozinha, que preparava a refeição com alegria na humilde casa de madeira. Embora criança, o garoto sabia das condições precárias da família, e já percebia as desigualdades que a mesma vinha enfrentando. Sabia que devido a sua origem negra, a vida seria mais dura. Isso porque ainda predominava o pensamento do negro como um “escravo”, ou, como um ser inferior, predestinado e submetido às vontades de seus superiores.
Nesta sociedade, a juventude com baixo poder aquisitivo, precisava auxiliar seus pais em diferentes afazeres. Pedro, com treze anos, já tinha adquirido autonomia e independência, destacava-se entre os demais jovens de sua idade, principalmente pelo fato de ele vivenciar as dificuldades constantes que lhes eram impostas, devido à baixa renda. Embora muito sofresse com brincadeiras diárias de mau gosto, o mulato tinha orgulho dos costumes de sua origem étnica. Em silêncio, observava alguns folgados (fartos capitalistas) cochichando a seu respeito:
DienniferGross– Olha aquele sapato, já saiu de moda século passado (risos)!
– Ih, o negrinho não vale nada!
– Esse não presta, mais um futuro lixeiro!
Por essas razões, as situações apresentadas faziam com que a família desejasse um futuro de grandes oportunidades a ele, para que o menino não enfrentasse o prejulgamento inoportuno da sociedade já hierarquizada, que infelizmente julga as pessoas pela cor, pela raça, e pela riqueza. Assim, tornando-se um cidadão de conhecimento, o jovem lutaria pelos seus direitos, para que os demais adquirissem respeito para com ele, e a ignorância prévia de suas tradições, fosse absolvida.
Além de trabalhadora, a cultura negra era caracterizada pela forte religiosidade. Católicos, rezavam ao amanhecer e ao anoitecer, agradeciam às refeições e participavam das missas. E foi naquela intensa noite de inverno, durante o jantar, que um senhor de meia idade, aparentemente bem vestido, bateu palmas em frente à residência. Rapidamente, foi convidado a entrar, deixando do lado de fora o forte vento que ali soprava. O homem diz ser um corretor de imóveis, que vem para lhes propor bons negócios. Era o seguinte: a família deveria deixar seu terreno por 20 mil reais, para a construção de uma hidrelétrica. Com a pressão feita pelo corretor, era preciso tomar uma decisão concreta em apenas dois dias. A questão era fora do comum, em função de eles não se encaixarem realmente na urbanização presente na cidade, a família ficava “sem rumo”. E foi então, que Pedro se deu conta de um aspecto importantíssimo.
O garoto percebera que não seria vantajoso aceitar a proposta por diversos motivos. Seus pais o interrogavam, e ele respondeu, num tom bastante respeitoso, com entusiasmo e voz grossa, passando uma ideia de guri maduro e disciplinado:
– Os senhores sabem que, nós, de origem não aceita pela sociedade ainda hoje, mesmo estando em um estado de desenvolvimento tão avançado, somos considerados a parcela da população que serve de mão de obra, para serviço braçal, forçado. Assim sendo, o que queremos fazer ao chegarmos à cidade? Onde morar? Em que trabalhar? Teremos condições para estudar? O custo de vida lá é muito alto, conforme os comerciantes. Se 20 mil reais são suficientes para deixarmos tudo, e recomeçarmos uma vida lá fora, aonde olhar-nos irão dos pés a cabeça… Para sermos desprezados? Eu quero ficar aqui, onde cresci, onde sou livre e feliz, no campo, no qual vivo conforme nossas vontades e necessidades.
GiordanaHeisserO silêncio tornou-se presente.  Pai e mãe entreolharam-se surpresos. A inteligência do guri era realmente surpreendente. Provavelmente perguntavam-se “Como sabia ele de tudo isso?”. Até que se deram conta de que o caçula estivera certo. Estavam sendo golpeados. Golpeados, porque a troca era desigual, a família seria injustiçada, e não lhes sobraria centavos para viver.
Passados dois dias, o homem retornou acompanhado do gerente da empresa interessada. Conforme o esperado, já trouxera consigo o dinheiro oferecido e fizera planos para a construção da usina, ou seja, para a transformação do território, onde a família Oliveira se desenvolvera, desde as primitivas gerações.
Negociação negada. Porém, havia ali, um jovem muito esperto, que precisava ter mais acesso ao conhecimento. Sabia-se que o mundo vinha oferecendo tecnologia, das quais precisavam ter acesso. Dessa forma, a família decidiu expor uma nova proposta aos interessados.
Pouso Novo – RS
Realidades atuais – 20/05/2016
Injustiças de uma sociedade racista
2º Capítulo
    Conforme lhes era benéfico, os Oliveiras propuseram aos dois homens: concedemos-lhes um lote de nossas terras para a construção da usina hidrelétrica, todavia, em troca, precisamos ocupar algum cargo dentro da empresa. Nossos salários são pouco proveitosos, pois não nos resta quase nada da renda que nos é oferecida como lixeiro e faxineira. Entretanto, de tudo, o que mais nos interessa agora, é que nosso filho estude numa instituição particular, de forte ensino. Assim, cabe a vocês custearem a instrução do garoto.
    Sem muito demorar, fora aceita a oferta. Certamente, essa negociação fora benéfica para ambas as partes, considerando que, agora, elas “dependem” uma da outra.
    Na manhã seguinte, viam-se expressões esperançosas nos rostos dos fiéis trabalhadores. O garoto dos olhos caramelados, cantava alto, canções alegres, demostrando que o contrato assinado realmente muito representara a eles. No entanto, as tarefas rotineiras seguiam. Pedro estudava no turno da manhã, contudo, ajudara desde pequeno nos afazeres campeiros, e hoje, sabia tanto quanto seus pais. Portanto, enquanto estes desempenhavam suas respectivas profissões no decorrer da tarde, ele exercia a “autoridade máxima” no interior.
    Sobre o trabalho infantil, ele persistia. Mesmo que proibido, as famílias mais necessitadas precisavam do apoio de todos os membros para que o sustento fosse garantido. De tal modo, chegava em casa com o almoço caprichado, posto à mesa. Em seguida, tinha de tratar os animais, a vaquinha Mimosa ficava por sua conta desde que nascera; cuidar da horta, que por sinal era bem variada; e ajudar seu pai nas plantações de milho e de soja, as quais percorriam uma extensa faixa de terras.
JulianaPurperA Mimosa era quem lhe dava algum trocado. Praticamente todo o leite por ela produzido era vendido à cidade, e os poucos centavos que o leiteiro lhe pagava, era o suficiente para satisfazer o garoto.
Na mesma tarde, após o reforçado carreteiro preparado pela criadora, Pedro fora realizar seus serviços diários. Pegou o cesto de palha e encheu-o com pasto. Chegando ao estábulo, deparara-se com a sua vaca deitada, como de costume. Cantarolava músicas ensinadas pelo seu avô materno com orgulho, até quando vira que Mimosa não demonstrara reação alguma com a sua presença. Inocente, o menino se aproximara ainda mais desta, e passou a acariciá-la. Ele sentara-se ao lado dela por um bom tempo. O caçula começara a chorar baixinho, mas o tormento e a angústia tornaram-se evidentes no momento em que o lacrimejar virou um soluçar.
    Evidentemente, Mimosa havia o deixado. Porém, a ficha demorara a cair. Como poderia ela tê-lo abandonado?
    Depois do sol se pôr, o contratante retornou à residência, juntamente de sua jovem filha. O homem veio com intenção de esclarecer o funcionamento da nova instituição de ensino e seus benefícios. Para tal, levara sua filha para que o garoto conhecesse um pouco mais da rotina e da personalidade dos futuros colegas. Até porque no contexto atual, sabe-se que a exclusão social se faria presente.
    Seu nome era Eduarda, menina muito bonita e generosa. Gentil, ela tirara a atenção de Pedro, que passou a admirá-la sempre mais. Foi amor à primeira vista, entretanto, mal sabia ele o que viria pela frente.

Pouso Novo – RS
Realidades atuais – 27/05/2016
Injustiças de uma sociedade racista
MilenaKonrath3º Capítulo
    A usina já estava em construção, quando o garoto iniciara seus estudos na nova escola, Dom Francisco de Assis. O primeiro dia fora de apreensão constante, devido ao novo ambiente e diferentes pessoas, mas principalmente à sua classe social e origem étnica divergente das demais. A única menina que ele já havia tido contato, o ignorou, o que lhe deixou abalado.
    Dessa forma, as dificuldades cresceram, e Pedro teve de recorrer a alguém. No final da aula, “criou” coragem e conversou com Duda para pedir-lhe auxílio. Foi então que ela deu-lhe atenção (porque suas amigas não estavam por perto, ela não seria vista com o jovem, portanto, não passaria vergonha de conversar com seu novo amigo).
    De tal modo, combinaram um horário para estudarem na casa da garota. Chegando lá, viu-se admirado pela magnífica casa e pela graciosidade da cuidadora da menina. Ali, estava outro motivo para o encanto tornar-se ainda mais intenso. Horas se passaram, e a conversa já ficara suficientemente íntima para que Pedro se sentisse bem.
    No suceder dos dias, a amizade crescera. A garota percebera a ingenuidade e a boa intenção de Pedro, portanto, deixara de ignorá-lo em frente aos demais. Assim, ambos visitavam-se frequentemente, e ela continuara a ajudá-lo nos estudos. No entanto, os pais de Duda não aceitavam o vínculo criado pelos jovens, e questionavam o motivo da aproximação:
    – O que leva você a trazer esse pobre garoto quase diariamente à nossa residência?
    – Pai, ele é um bom garoto. Como tu te atreves a dizer que ele é pobre? Tu não conheces a riqueza que há no coração dele, o conhecimento de mundo que ele tem é amplo; todavia, a discrepância do ensino público para o privado são tão intensas, que ele apresenta dificuldades nas exatas. Para tal, acredito que seja importante o meu auxílio.
    – E o que você ganha em troca?
    – Em troca? Não preciso receber nada de valor, apenas o sentimento de solidariedade me faz bem.
    O pai sente-se impotente. Sem mais nada a declarar, termina a conversa.
Independente da opinião desse, o relacionamento dos adolescentes não foi afetado. Foi numa das tardes de estudo, que Pedro fitou os olhos na menina durante um longo tempo. Ela retribuiu o olhar e corou, envergonhada. Ele aproximou-se, ela sentiu-se atraída pelo brilho de seus olhos. Os rostos estavam tão próximos, que foram capazes de sentir a respiração ofegante da menina. E foi neste instante que os lábios se tocaram, e ocorreu o primeiro beijo, fato que nunca seria esquecido.
O amor certamente era recíproco, e em função disso, eles continuaram o “relacionamento secreto”, enquanto nada os impedia.

Pouso Novo – RS
Realidades atuais – 03/06/2016
Injustiças de uma sociedade racista
4º Capítulo
A hidrelétrica estava pronta. Conforme o acordo, os pais do menino começaram a trabalhar na mesma, em um alto cargo. Esse, ofereceu-lhes uma condição de vida mais digna, o que proporcionou maiores oportunidades a toda a prole. Considerando-se o fato de que os Oliveiras eram “rebaixados” pela família de Duda, Pedro teve muita dificuldade de ser aceito pelos pais dela.
Sabendo que o casalzinho manteve em segredo o namoro por um tempo, é relevante ressaltar que ele amava-a muito, seu corpo perfeito, as covinhas de seu sorriso, os olhos brilhantes, o sorriso estonteante e seus cabelos de algodão atraiam-no ainda mais. Acontece que, numa noite de lua cheia, o jovem apaixonado fez uma surpresa para a amada. Mas ela não esperava tal ato. Ele colhera as mais belas flores do jardim, assinara um cartão e mandara à casa da garota.
Pijamas postos, o porteiro avisa que alguém havia deixado um agrado a ela. Assinado no cartão estava: “Nossa felicidade é como um insulto aos infelizes! Seu confidente amor”. Ela via-se, num primeiro momento, surpreendida e encantada. Entretanto, o efeito fora breve. O médico indagara à filha:
– Quem mandara essas flores a você, menina? Acredite, estou de olho em você. Qualquer coisa que tenha planejado, esqueça.
– Pai, como podes tu falar assim comigo? Sou jovem suficiente para saber das minhas obrigações. E, se há alguém que me admira, que bom!
A moça correra para o seu quarto, depois de lamentar-se, pegara no sono. Ao acordar, o sol reluzia nas vidraças. Os olhos inchados substituíram-se rapidamente por um olhar vivo, intenso como os raios refletidos no véu.
A campainha tocara! A cuidadora chamou! Pedro entrou! Eduarda fora chamada, e ouvira belas palavras do garoto, que diante da família de sua adorada, ajoelhara-se e dissera:
– Tu és a razão dos meus dias mais alegres, quero-te fazer feliz, protegê-la e amá-la eternamente. Minha melhor amiga, tu trilhastes minha vida, tu és meu sonho, minha paz. Aceitas namorar comigo, minha princesa?
– Há como negar um amor tão doce? Nunca. Eu aprendi a ver a beleza nas coisas mais simples da vida, contigo, meu namorado.
Beijaram-se e trocaram as alianças. Então, o rapaz, com receio, pedira para os pais da menina autorização para levarem a relação adiante. Surpresos, os pais concordaram.
Entretanto, há um comportamento ridículo, fortemente presente em alguns relacionamentos, que é a exclusão e a ignorância social, racial e econômica. O garoto dos olhos caramelados, passou por dificuldades de convivência com a família da namorada, os quais eram contra o relacionamento, pelo fato de acreditarem que a filha era merecedora de um jovem com status privilegiado, e da alta sociedade, a qual eles pertenciam, como médico e advogada reconhecidos.
Porém, o amor ultrapassa barreiras, até mesmo aquelas impostas com a intenção de perturbar o namoro, tão recente e tão tentador. Os novos ofícios dos pais de Pedro reverteram à situação de pobreza, e permitiram que a vida familiar recomeçasse. Percebendo a condição mais elevada da estirpe, a convivência passara a ser constante e apoiada. Juntos, os adolescentes conheceram o amor, perceberam o valor de uma pessoa, e a influência que uma vida tem sobre a outra.
        
Fim!
Pouso Novo – RS
Realidades atuais – 09/06/2016

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