Autora: Maria Eduarda Ferrari Vieira
Turma: 9ª série A
Unidade: Lajeado
Professora: Letícia Gracioli
Alícia Pinheiro Menezes era ela mesma. A jovem, que tinha cabelos castanhos, não possuía apenas um corte de cabelo e um estilo diferente do padrão das garotas de sua faixa etária, destacava-se, principalmente, por sua personalidade forte e sua força de vontade. Estudiosa como poucas, ela usava grande parte do seu tempo lendo todos os tipos de livros. Provavelmente, aderiu esse costume devido à forte ligação que tinha com o seu pai Gabriel, jornalista e escritor. Desde que se conhecia por gente, eles e o querido mascote, o felino Brooklyn, viviam juntos num espaçoso apartamento, em Curitiba. Apenas os três.
Nunca realmente entendeu o que aconteceu com sua mãe. Quando a menina tocava no assunto, Gabriel hesitava e, com desculpas esfarrapadas, trocava rapidamente o foco da conversa por isso. Com o passar dos anos, desistiu. Passou a pensar que a vida deveria seguir e que o passado em nada lhe afetaria.
Numa manhã chuvosa de sexta-feira, enquanto Alícia estava estudando na biblioteca de sua casa, ela encontrou um laudo médico no qual constava o nome de seu pai, com um diagnóstico de uma doença nem um pouco agradável, ele estava com leucemia. Leucemia! Ela lia e relia aquela maldita folha, não querendo acreditar. Não querendo acreditar também que seu pai estava escondendo isso dela. Rapidamente, foi até o consultório do médico que tratava Gabriel, desesperada. Explicou a situação para a secretária, que se sensibilizou e conseguiu um horário na agenda concorrida, para que Alicia conversasse com o doutor. Aqueles quarenta e cinco minutos de espera quase mataram-na.
A conversa com o médico foi muito esclarecedora. A cura de seu amado pai dependeria de alguém que tivesse uma medula óssea compatível e estivesse disposto a fazer um transplante. Gabriel já havia entrado na lista de espera, porém ela era imensa. Como relatou o próprio doutor, existiam pessoas que passavam anos de longa busca por um doador. Logo, a garota prontificou-se a fazer o teste de compatibilidade.
Preocupada e triste, a menina retornou ao lar. O pai, quando chegou a casa na hora do almoço, percebeu a expressão desanimadora estampada no rosto da filha. Revoltada, Alícia não conseguiu se conter e descarregou o sentimento pesado sobre ele, que ficou sem reação. Logo, ela desabou em lágrimas ao se dar conta de que o pai não havia culpa no caso, era justamente o contrário, carinho era o que ele mais precisava no momento. Se ele havia escondido dela alguma coisa, era por medo da sua reação.
Dias se passaram e a esperança começou a se esvair. O teste de compatibilidade fora negativo. Qual seria a solução do problema?
Parece que o pai da garota tinha uma ideia. Gabriel remexeu nas gavetas da biblioteca e pegou um porta-retrato bastante antigo, até um pouco mofado. Nele, estava a fotografia de um menino pequeno, com cerca de uns 3 anos de idade. Após colocar o objeto nas mãos da garota, que se mostrou confusa, o pai ordenou:
– Filha, se tens vontade de me ajudar, como acredito que tenhas, pegue esta foto e confira o endereço que está escrito atrás dela, é lá que podes encontrar uma resposta. – A menina, assustada, tentou:
– Como assim, pai? O senhor vai comigo, não?
Gabriel esclareceu:
-Por ordens médicas, devo permanecer em casa, de repouso. A fase é crítica, não se sabe o que pode acontecer…Agora, arrume suas coisas que as passagens já estão providenciadas.
Então, a garota resolveu seguir o percurso, mas o destino lhe assustava: Florianópolis, Praia do Campeche, Avenida Pequeno Príncipe, número 153. Além disso, ela nunca havia viajado sozinha. O que estava lhe esperando?
Posteriormente a uma longa noite de viagem, Alícia chegou à cidade e, por volta das nove horas da manhã, ao seu rumo final. O coração não cabia mais no peito, e o cérebro já não assimilava as coisas como de costume. Ainda, havia uma pergunta não saía do seu pensamento: Por que motivo aquele menino da foto poderia traçar o futuro de seu pai? A resposta apareceria em instantes.
Ao tocar a campainha pela segunda vez, uma mulher abriu a porta com uma expressão de surpresa. Ela era alta e trajava um longo vestido estampado, deveria ter uns quarenta e poucos anos. Era simples e, apesar da tristeza que carregava no olhar, era bonita, muito bonita. Inclusive, tinha traços que lembravam Alícia, diga-se de passagem. A mulher exclamou:
-Pois não, moça!?
-Olha, senhora, vim aqui por causa desta fotografia. Você sabe quem é? -Alicia lhe mostrou o porta-retrato.
– Sim, é meu filho, o Miguel. Quem é você? Como tem essa foto? – Nervosa, a senhora respondeu.
-É uma história meio complicada. Meu nome é Alicia Pinheiro Menezes, meu pai me mandou aq… – A fala da garota foi interrompida por um abraço inesperado e um choro alto. Entre soluços, a mulher declarou:
-Querida, sou Elisa Pinheiro, pode me chamar de mãe.
O mundo pareceu parar de girar por um instante. A frase ecoava na cabeça dela. Em seguida, Alícia já conheceu a criança da fotografia. Era Miguel, seu irmão mais velho. Ele era moreno e usava barba, tinha vinte anos, muito parecido com o pai deles quando mais novo, como Elisa lhes contou.
Depois de muitos esclarecimentos vindos da mãe sobre o passado, chegou a hora em que a menina contou o que de fato havia lhe levado até lá. A saúde do pai estava em grande risco, e Miguel poderia ser o tão esperado doador. No mesmo momento, o jovem abraçou a causa, além do mais, também estava muito curioso para conhecer seu pai.
E assim, voltaram os três para Curitiba, em grande expectativa. Ao chegarem lá, a menina os levou até o apartamento. Após largarem suas malas e irem ao banheiro, Alícia seguiu os miados de Brooklyn, até chegar ao cantinho favorito da casa, a biblioteca.
Em cima da escrivaninha, havia uma carta, envolvida por um bonito cartão. Na mesma, a caligrafia do pai: “ Minha querida, consegui! Agora estás junto da tua família. Minha missão está completa. Saudoso, teu pai”.