Questão de percepção

Aluna: Martina Schwertner
Turma: 2ª série C do Ensino Médio
Professora: Martiele Jung

“A realidade é só uma questão de percepção, Tina”, disse-me, certa vez, uma alma amiga. Demorei-me a completamente entendê-la, não por falta de capacidade cognitiva, mas porque queria saborear aos poucos todas as filosofias contidas nessa pequena frase.
Tudo o que vemos, sentimos ou experimentamos é um produto de nossas mentes. Não afirmo que os pássaros, os abraços e as horas não existam fora de nossa imaginação e, sim, que o modo como assimilamos tais aspectos de nosso universo nos é único. Cada ser consciente tem suas próprias ideias a respeito do mundo em que vive e do que há além do mesmo; e, apesar de nós, como sociedade, termos estabelecido normas e categorias para organizarmos essas ideias como “certas” ou “erradas”, não nos é realmente possível controlar, ou, até mesmo, simplesmente conhecer o que se passa nas diversificadas mentes de nossos semelhantes. Isso se torna tanto assustador quanto libertador.
É interessante relembrar as epifanias do personagem Ray Smith, do livro “Os Vagabundos Iluminados”, de Jack Kerouac. Marcaram-me as passagens nas quais Smith pondera sobre as divisões entre o que de fato existe e as lacunas que preenchemos com nossos pensamentos e adivinhações. O personagem, nessa ocasião, utiliza-se de uma maça como exemplo: para nós, é perceptível que ela faça parte da realidade, pois vemos as cores distintas, sentimos o seu aroma e a sua textura, nosso paladar aprecia o seu sabor. Contudo, jamais poderemos alcançar modos adversos a nossos próprios sentidos para explicar fatores como essa fruta. Apenas são reais, pois dizemos que são reais, porque os chamamos de “maças”, “pássaros”, “abraços”, “horas”; e ensinamos os outros membros de nossas comunidades a aceitá-los como verdades. Somente, como afirma Smith, os “despertamos” em nossas consciências.
Sugiro ao leitor pensar sobre o quão variáveis são nossas opiniões a respeito de nossos princípios e morais como humanos, principalmente quando os baseamos em algo geralmente tomado como informação fatual, mesmo antes de ser questionada sua legitimidade existencial.

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